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Carreira acadêmica e desigualdades de gênero no Brasil: o efeito da mobilidade internacional no pós-doutorado

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DOI:

https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.6683

Keywords:

Academic Mobility, International Collaboration, Brazil, Career, Gender

Resumo

Estudos empíricos têm apontado que a mobilidade acadêmica pode aumentar o capital social, contribuir para colaborações e influenciar diretamente o sucesso geral na carreira (Dueñas-Fernández, Iglesias-Fernández & Llorente-Heras, 2013). No entanto, também se sabe que tanto a mobilidade acadêmica quanto as colaborações científicas internacionais podem ser impactadas negativamente pela desigualdade de gênero.

No que diz respeito à mobilidade internacional, as mulheres estão sub-representadas em todas as áreas do conhecimento (Momeni et al., 2022). Na ciência, a imobilidade ou baixa mobilidade é comumente associada a uma progressão de carreira mais lenta; escassas oportunidades de ocupar cargos de coordenação e gerenciamento ("teto de vidro"); menor inserção em redes de colaboração internacional; e até mesmo abandono da ciência (Delicado & Alves, 2013; van der Wal, 2021).

A sobrecarga de funções familiares e o efeito de parceria (Ackers, 2004) estão entre os obstáculos que as mulheres podem enfrentar, o que pode limitar as oportunidades de deslocamento dos pesquisadores (Momeni et al., 2022). Esse cenário justifica a importância de explorar a mobilidade internacional realizada por pesquisadores brasileiros para analisar, entre outros aspectos, os possíveis desequilíbrios de gênero na mobilidade acadêmica.

A população investigada nesta pesquisa será composta por brasileiros que realizaram estudos de pós-doutorado no exterior. Essa seleção ocorre porque eles estão mais avançados em suas trajetórias profissionais e de formação. A fase após o doutorado torna o pesquisador mais independente e responsável por sua agenda de pesquisa, o que os capacita a conduzir estudos de alto impacto (Nerad et al., 2022).

O trabalho tem como objetivo elaborar uma pesquisa que avalie o efeito da mobilidade de pós-doutorado no exterior no emprego na carreira acadêmica, considerando a desigualdade de gênero e aspectos institucionais e sistêmicos (como área de conhecimento, produtividade acadêmica e posição na carreira) (Aksnes et al., 2019). Para isso, será construído um banco de dados consolidado com base em ex-bolsistas de pós-doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e na triangulação de um conjunto de fontes de dados, uma vez que não existe um banco de dados consolidado sobre mobilidade e vínculos de emprego no caso brasileiro. Em seguida, será realizado um estudo comparativo com um desenho descritivo e exploratório entre aqueles que tiveram bolsas de pós-doutorado no exterior e aqueles que tiveram bolsas de pós-doutorado no Brasil sem estágio no exterior, com o objetivo de possibilitar a realização de um quasi-experimento no futuro.

DESENHO/METODOLOGIA/ABORDAGEM:

O desenho da pesquisa é descritivo e exploratório, no qual será construído um banco de dados consolidado com informações sobre emprego, produção acadêmica e currículo, bem como a realização de estágios no exterior. Assim, serão investigados possíveis padrões e diferenciações entre as trajetórias acadêmicas e as características dos indivíduos. O banco de dados consolidado é construído explorando, coletando e cruzando informações de várias fontes de dados com controle de qualidade das variáveis selecionadas.

Primeiramente, exploraremos as bases de dados disponibilizadas pela FAPESP referentes a ex-bolsistas de pós-doutorado para obter informações sobre os indivíduos financiados entre 2012 e 2017, como nome, afiliação institucional e área do conhecimento. Essas informações são necessárias para cruzar com outras bases de dados. Além disso, outras informações dos registros dos pesquisadores serão verificadas em relação à porcentagem de valores ausentes, como gênero, raça/cor, orientação sexual e idade, entre outros. O período permitirá a verificação da produção científica e inserção no mercado de trabalho nos anos de conclusão do pós-doutorado. Em seguida, a base de dados da FAPESP será utilizada para a triangulação com outras três fontes de dados: (i) registros formais de emprego do Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Previdência Social; (ii) currículos disponíveis na plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); e (iii) a afiliação institucional na produção científica de um estudo bibliométrico.

RESULTADOS OU RESULTADOS ESPERADOS:

Os resultados encontrados até o momento mostram uma distribuição discrepante de bolsas concluídas por área do conhecimento e uma alta concentração de países de destino no Norte Global. Os resultados esperados são a obtenção de diferentes padrões entre os efeitos da mobilidade de bolsistas de pós-doutorado no exterior e os efeitos das características dos indivíduos (gênero) na produção científica e no emprego. Isso permitirá a formulação e a fundamentação de hipóteses para trabalhos futuros.

ORIGINALIDADE/VALOR:

A originalidade desta pesquisa está fundamentada em três fatores. Primeiramente, o aumento do conhecimento sobre a mobilidade internacional, enfatizando os impactos da mobilidade nas carreiras de cientistas e acadêmicos brasileiros e na desigualdade de gênero, que ainda é pouco explorada. Em segundo lugar, o aumento nas áreas de conhecimento estudadas e no número de países de destino. Estudos anteriores geralmente se concentravam em algumas áreas, favorecendo aquelas com baixa presença feminina (ciências exatas, biológicas e engenharias) e um pequeno grupo de países de destino (principalmente países do Norte Global). Assim, a abrangência é uma das inovações desta pesquisa, sem a pré-seleção anterior de áreas de conhecimento ou países de destino. Em terceiro lugar, os resultados serão baseados em uma triangulação de quatro conjuntos de informações, que complementarão diferentes tipos de vínculos acadêmicos, validação dos dados de pesquisa e maior confiabilidade.

IMPLICAÇÕES PRÁTICAS/SOCIAIS:

As assimetrias de gênero no acesso à mobilidade acadêmica destacam as disparidades entre homens e mulheres nas possibilidades de avanço na carreira, considerando a relevância das experiências internacionais no currículo dos pesquisadores. Juntamente com as discussões sobre Avaliação Responsável da Pesquisa (RRA), iniciativas globais de grupos como o Research on Research Institute (RoRI) e o Global Research Council (GRC) estão trazendo a necessidade de considerar a Equidade, Diversidade e Inclusão (EDI) nas práticas e atividades de pesquisa para o debate. Portanto, é essencial ampliar a compreensão das desigualdades de gênero na mobilidade internacional e nas carreiras acadêmicas, especialmente no contexto brasileiro. Isso contribuirá para implementar planos e políticas de EDI e criar mecanismos voltados para a equidade de gênero na geração de oportunidades de mobilidade acadêmica em agências de financiamento.

DIREÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS/LIMITAÇÕES:

Antecipa-se que haverá duas limitações principais na pesquisa. A primeira é a dificuldade em obter informações sobre as características dos indivíduos. Mesmo com a triangulação de várias fontes de dados, as informações muitas vezes são de baixa qualidade ou inexistentes. A segunda limitação decorre da necessidade de metodologias mais robustas que permitam maiores inferências sobre os resultados, o que exige avanços em pesquisas futuras, onde metodologias como o Escore de Propensão Generalizada (GPS) são implementadas.

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Postado

28/08/2023

Como Citar

Carneiro, A. M., Gimenez, A. M. N., Bueno, A. C., Ferreira, C. M. B., Tetzner, G. A., Suzuki, J., Lopes, L. A. P., & Maria Capanema Bezerra, L. (2023). Carreira acadêmica e desigualdades de gênero no Brasil: o efeito da mobilidade internacional no pós-doutorado. In SciELO Preprints. https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.6683

Série

Ciências Humanas

Plaudit

Dados de financiamento

Declaração de dados

  • Os dados de pesquisa estão contidos no próprio manuscrito