As contradições na "guerra justa" de Vladimir Putin contra a Ucrânia: Os mitos da contenção da OTAN, proteção de minorias e desnazificação
DOI:
https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.5486Keywords:
Guerra na Ucrânia, Guerra Russo-Ucraniana, Expansão da OTAN, Desnazificação, Vladimir Putin, Guerra no Donbass, Invasão da UcrâniaResumo
Desde a invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, Putin mobilizou diferentes argumentos para justificar sua política agressiva, principalmente a busca pela contenção da expansão da OTAN, a proteção dos russos étnicos e das minorias de língua russa e a "desnazificação" da Ucrânia. Neste artigo, analiso as contradições e incoerências nesses três argumentos. Em primeiro lugar, mostro que, embora as elites russas tivessem considerações legítimas para contestar a expansão da OTAN no período pós-Guerra Fria, não há evidências de que a ação militar de Putin tenha sido motivada por essa questão: como já era esperado, a invasão veio a fortalecer ainda mais a aliança, propiciando-lhe uma “razão de ser” legítima e contribuindo para uma presença militar ainda mais intensa próxima às fronteiras russas; o equilíbrio de poder europeu está agora ainda mais favorável à OTAN do que antes do conflito. Em segundo lugar, em relação às intenções humanitárias de proteger as comunidades de língua russa no Leste da Ucrânia, a invasão russa até agora levou ao resultado oposto: dez meses de guerra causaram mais mortes de civis do que oito anos de guerra no Donbas, e a população de língua russa tem sido exatamente a maior vítima. Finalmente, no que diz respeito à “luta contra o nazismo”, embora na Ucrânia haja grupos ultranacionalistas, não há evidências de que tais grupos contem atualmente com significativa influência política e amplo apoio na sociedade; ademais, as próprias autoridades russas mantêm laços com grupos semelhantes. A narrativa da “desnazificação” representa uma estratégia de demonização do adversário, mobilizada para legitimar o desmembramento e extinção da Ucrânia como Estado e nação. A guerra atual revelou a política de “dois pesos e duas medidas” do Kremlin: as mortes de civis resultantes das tentativas de a Ucrânia recuperar o controle de seu território são evidências de um "genocídio"; enquanto as mortes de civis resultantes da invasão russa são apenas os "efeitos colaterais" de uma luta legítima contra "nazistas" e a OTAN.
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